Maior
competição de mountain bike da América Latina
acontece
em São João del-Rei (MG)
por:
Raquel Couto - KEKA
Terra,
asfalto, cascalho, gramado, subidas, descidas e sol quente. Os mais de 900
ciclistas inscritos na Copa Internacional de Mountain Bike encararam tudo isso
pela frente.
A
histórica cidade de São João del Rei, em Minas Gerais, foi o palco escolhido
para o evento e os mineiros representaram muito bem dentro de casa. Atletas de
todo o Brasil e convidados internacionais marcaram presença e o público
presente acompanhou disputas emocionantes.
No
primeiro dia de competição aconteceu o Sprint Eliminator, modalidade que vem se
popularizando na CIMTB. O desafio aconteceu ao redor da Igreja de São Francisco
de Assis, um majestoso templo católico, considerado um dos mais belos do
Barroco mineiro. A igreja é um marco da arquitetura colonial de Minas Gerais e
a obra contou com o trabalho do mestre Antônio Francisco Lisboa, o famoso
Aleijadinho. Mas a atenção dos presentes não estava na igreja e sim nos
atletas. Daniel Grossi, ciclista de Juiz de Fora (MG), superou o favoritismo do
suíço Lukas Kaufmann e subiu no lugar mais alto do pódio. Entre as mulheres, a
mineira Erika Gramiscelli, de Belo Horizonte, não poupou energia e foi a mais
rápida.
O Cross Country
foi realizado no segundo dia de competição, com presença de atletas
profissionais e amadores. O circuito de 6km de extensão, testava a força,
técnica e resistência dos participantes. Os ciclistas foram agrupados em quatro
largadas separadas - 8h, 10h, 12h e 14h - divididos por idade, sexo e experiência.
Na
categoria profissional o clima pegou fogo. Ricardo Pscheid, da equipe Soul
Cycle, não deu mole para os "gringos" e liderou de ponta a ponta a
competição. Em segundo lugar ficou o tricampeão brasileiro, Rubens Valeriano e
logo atrás o suíço Lukas Kaufmann. Na elite feminina, a argentina Noelia
Rodrigues era temida pelas brasileiras e considerada favorita para a vitória.
Mas as previsões foram contrariadas e a disputa ficou entre duas mineiras. Isabella
Lacerda, de Itaúna, imprimiu um ritmo muito forte, sendo perseguida de perto
por Roberta Stopa, ciclista de Juiz de Fora. As mulheres provaram ter muita
força e atitude, encarando com disposição os obstáculos ao longo do circuito.
Isabella Lacerda cruzou a linha de chegada em primeiro lugar e não escondeu a
alegria e emoção. "Não sei descrever o que estou sentindo. Uma emoção, uma
felicidade tão forte dentro de mim que parece explodir em meu peito. Ser campeã
de uma etapa da Copa Internacional de Mountain Bike era um sonho e um objetivo
traçado desde o início da minha carreira. Quero agradecer muito a Deus e a
Nossa Senhora por sempre me proteger e iluminar a minha vida, aos meus
patrocinadores por acreditarem e confiarem em meu trabalho, a minha equipe
LM/Shimano por toda estrutura necessária para esse resultado, a minha família
que é minha base, ao meu treinador Cadu Polazzo pelo excelente trabalho, aos
meus amigos e a todos que torceram e me incentivaram. Estou muito feliz!
Obrigada mesmo, de coração. Mountain bike é a minha vida.”
PERSONAGENS
Participam
da Copa, homens e mulheres, adultos e crianças, todos com a mesma paixão em
comum: Pedalar. Muitos deles não são atletas profissionais, mas dedicam ao
esporte em busca de equilíbrio físico, superação pessoal e até mesmo
aprendizado de vida. Todos os participantes trazem uma historia de vida e uma relação
pessoal com o esporte.
Daniela
Costa teve que correr atrás de ajuda pra conseguir ir à corrida por ser bem
longe de onde mora. São 950km de Formosa, estado de Goias, até a cidade de São
João del Rei, em Minas. "O empresário Homero, da loja Moto Formosa, me deu
as passagens de avião, o lojista Emerson, dono da loja Pedal Livre, me ajuda na
manutenção da minha bike, me vende as peças de reposição com um preço melhor e
paga a minha inscrição", explica a atleta. Daniela conta que saiu de casa
na sexta as 4:30 da manhã. “Fui de carro até Brasília, de lá peguei o avião até
Belo Horizonte, onde alugamos um carro. Cheguei na cidade as 15h de sexta feira.
Tive gastos com hotel, alimentação e extras da viajem em torno de R$800",
explicou. A ciclista destaca que vem treinando forte desde o ano passado (cinco
vezes na semana, por volta das 6:30 da manhã). É o prazo de voltar logo para o marido
ir trabalhar. "Eu tenho uma filha de quase dois anos que depende muito de
mim. No momento não trabalho, fico por conta da minha filha e minha casa. Nos
meus treinos conto com a ajuda de um amigo, o Sillas, ele me indica oque devo
fazer, oque seria melhor, mas nada profissional, ele me ajuda porque entende
mais do que eu sobre isso", contou a ciclista. Daniela afirma que não é
fácil conciliar vida de mãe e atleta, mas destaca que o marido é o seu
maior incentivador e colabora muito.
Ivan Sá viajou de carro, aproximadamente 210km, de Belo Horizonte até
São João del Rei. Chegando ao hotel é hora de descer todas as bagagens e
procurar um lugar pra se alimentar, comer com moderação alimentos mais leves e
partir para o treino. A noite sair pra jantar e dormir cedo. No domingo, café
reforçado e descer pra pista. Depois da corrida, aguardar o resultado, pódio e
voltar para o carro, preparar tudo e pé na estrada de volta. Ivan não foi para
competir, mas conhece bem essa logística de atleta. Ele está na Copa acompanhando
o filho de 12 anos e não esquece nenhum detalhe. “Sempre é muita batalha,
levantar às cinco da manhã, conferir se tudo está no lugar, não esquecer dos
equipamentos, do comprovante de inscrição, remédios, ferramentas, peças e
comprovante de reserva do hotel. Depois de tudo conferido, toma-se um café e pé
na estrada“, segundo Ivan, tudo isso não fica menos de R$500, mas afirmar fazer
com mais puro prazer e não esconde o orgulho de acompanhar o filho. “Me sinto privilegiado por ter a oportunidade de
acompanha-lo e me sentir muito próximo. Acompanho todo o desenvolvimento do
Gabriel. Ele aprende muito sobre o esporte e também sobre a vida, como se
relacionar com pessoas e aprender a perder e a ganhar, coisas importantes para
o resto da vida. Gostaria que todos os pais tivessem está mesma oportunidade, em
qualquer modalidade, pois o esporte educa, da disciplina, saúde e afasta nossos
filhos do mundo das drogas. O Gabriel está no MTB desde 2003 e espero que
continue por muitos anos”, concluiu Ivan.
PEDAL E SAÚDE
A segunda etapa
contou também com o apoio da Secretaria do Estado de Esportes e da Juventude de
Minas Gerais. “É muito importante apoiar um evento dessa magnitude, que além de
receber grandes nomes no mundo do ciclismo nacional também fomenta a vinda de
atletas de outros países a Minas Gerais. Estamos trabalhando em parceria com a
subsecretaria Antidrogas e estar junto de um evento como esse nos possibilita
fazer o casamento entre a prática saudável do esporte e o combate ao uso de
entorpecentes, principalmente para as gerações futuras”, enfatiza o
subsecretário de Esportes, Adenilson Sousa.
O
organizador do evento, Rogério Bernardes, afirma que São João del Rei tem tudo
para sediar mais etapas da Copa e entrar definitivamente para o calendário
mundial. “Fomos muito bem acolhidos aqui em São João. A UFSJ, o IPHAN e
Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis abraçaram o evento e a ideia
é que possamos voltar todos os anos, assim como Araxá que é cidade-sede desde
2003. A estrutura da cidade é fantástica e a hospitalidade da população é
imensurável”, comentou.
A Copa é
válida pelo ranking nacional e ranking internacional do esporte.
confira o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=P6UETVmQgWk
texto e fotos: Raquel Couto
